AGONIAS EXPERIMENTALISMOS & VANGUARDISMOS

A AGONIA DO CINEMA. Fala-se muito na morte do Cinema mas na realidade são as salas de cinema que definham. O Espectador Espantado não foi exibido no seu dia de estreia no Alvaláxia. devido a problemas técnicos com a projecção 3D. Imaginem se o mesmo se passasse com os Vingadores ou com os Incríveis II (ambos filmes 3D), o escândalo que seria… Mas não só os cinemas privados que desinvestem na qualidade das suas projecções. Muito recentemente mostrei na Culturgest O Homem Pykante e o som era totalmente deficiente: ao que parece uma coluna tinha morrido e não lhe tinham feito o funeral. Mas o cúmulo foi quando am técnico sugeriu ao misturador do filme que fizesse novas misturas para as especificidades daquela sala…. Também a última vez que projectei um filme no São Jorge, o som era uma miséria, e consta que apenas usam as melhores lâmpadas do projector em sessões oficiais. Não sei se a situação se mantém nestas salas, mas ainda há pouco vi no Corte Inglês um filme numa versão escura e sem contraste. A decadência do cinema enquanto fenómeno colectivo será inevitável? (não costumo postar este tipo de comentários, mas já é confrangedor estrear um filme numa só sala em Lisboa, quanto mais ver sabotada a sua estreia).
EXPERIMENTALISMOS & VANGUARDISMOS.  Volta e meia leio críticas em que se referem aos meus filmes como experimentais. Confesso que me salta a tampa de cada vez que leio essa palavra associada ao meu trabalho. Ataca-me uma espécie de neuro-urticária. Rotular um filme de experimental pode parecer inócuo. Mas não é. Este rótulo pressupõe que o que se apresenta não pertence à categoria dos filmes “normais”. Se calhar talvez fosse melhor então chamarem de filmes anormais, que saem fora na norma vigente.
Um dos motivos porque aceitei realizar Virados Do Avesso foi provar que conseguia fazer um filme “normal” para um número elevado (120.000) de espectadores “normais”. Quis provar às pessoas que olham para o cinema que faço como algo de deficiente, que não é defeito é feitio, que ele não é assim porque não sei fazer de outra maneira.
Na realidade, acabo sempre por fazer da forma mais difícil porque acho extremamente enfadonho replicar as metodologias narrativas que remontam ao século XIX. No fundo ainda saímos do folhetim, quer se trate de televisão ou de cinema.
Há espectadores que não conseguem ver mais do que uma imagem ao mesmo tempo e olham para a simultaneidade de diferentes acções e para o tratamento plástico da imagem como “mero” fogo de artifício. Pela minha parte, apenas sigo pistas que foram lançadas já há muito tempo, pela teoria da relatividade e pelo cubismo. Desde então (penso que) não há desculpa para apresentar uma obra artística segundo os Kânones do Naturalismo, ou mesmo do neo-realismo, nas suas diferentes manifestações, do neo-realismo “militante” ao poético. Hollywood padece do mesmo “mal”, mesmo quando se trata de cinema “fantástico”
Em relação ao Espectador Espantado criou-se também uma certa confusão porque o filme faz parte da minha tese de doutoramento. Mas isso não quer dizer que o filme seja em si uma tese. Nem sequer o texto que acompanhou pode ser considerado uma tese do ponto de vista canónico, mas o filme obviamente não segue um caminho linear, não aposta num único ponto de vista. Aproxima-se talvez do filme-ensaio, no sentido em que implica a busca de diferentes formas de resolver um problema. Testo muitas hipóteses antes e depois de filmar. Às vezes, durante a montagem sigo percursos que sei que são sem saída, só para testar a resistência do material, e ver que caminhos não interessa percorrer. Mas depois opto por uma forma definitiva. É um caminho sem certezas, mas com um contorno bem definido. Cinema de investigação.
Mas talvez, o melhor termo para substituir o malfadado termo experimental seja experiencial (ou expêrancial no meu caso). Interessa-me fazer com que o espectador entre num universo orgânico e experencie uma obra de arte como algo de habitável, que se pode visitar. Claro hoje já não me espanta que muitos dos espectadores não queiram viver em universos alternativos, sem bússolas nem GPSs. Aprendi com o tempo que as críticas revelam mais sobre as limitações dos seus autores, do que sobre as minhas. Este é o caminho que resolvi seguir já há muito não é agora que vou fazer marcha-atrás. (aliás em breve quando virem os Caminhos Magnétykos vão levar uma dose maciça de expêrancialismo, o que afastará muitos dos espectadores que vêem na sobreposição de imagens e sons um efeito pirotécnico). Mais poderia dizer mas hoje é domingo. Termino com uma citação do filme que iniciou a saga da minha tese: “Morte ao Realismo! Vivam os Kryptocelulóides! Viva o Cinesapiens! “Cowboys_1

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